Quantos ainda terão que morrer nas estradas para que Pagot entenda que a vida vale mais que mundanas acomodações políticas? A vida vale mais que “gorjeta”
Por Adriana Vandoni
Começaram a pipocar notícias sobre o descaso com que as estradas federais brasileiras estão sendo tratadas. Descaso histórico, é verdade. Descaso que começa com a opção do Brasil por transportar sua produção através de rodovias. Mas o problema agrava-se porque as precárias rodovias brasileiras não transportam apenas produtos. Transportam gente. Segundo estimativa levantada pelo Jornal O Globo, dos R$ 3,3 bilhões destinados a manutenção das estradas federais em 2008, o Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes – Dnit, “conseguiu” gastar pífios 15,5%. Montante bem abaixo quando comparado ao gasto em 2006 e 2007, 43% e 44%, respectivamente.Na outra ponta do descaso com a manutenção das estradas federais aparece o relatório da Polícia Rodoviária Federal, com lamentável média de 27 pessoas mortas por dia, durante a última semana de 2008A situação é aterradora no estado de Minas Gerais, maior malha viária federal do país. Lá a inoperância do Dnit conseguiu superar sua própria média. O montante investido na manutenção das estradas em 2008 foi apenas 10% do previsto no orçamento da União para o ano. Ou seja, o Dnit investiu uma “gorjeta”. Em compensação, segundo estatística do PRF, no ano passado 1.102 pessoas morreram nas mal ajambradas estradas federais que cortam Minas Gerais, ou seja, as estradas federais em Minas produziram no ano passado, o mesmo número de mortos que a guerra de Gaza até agora. O Dnit rebate as críticas e acusações mineiras dizendo que investiu mais de R$ 226 milhões, “se somados os valores usados em pagamento de obras orçadas em anos anteriores”, afirma o Dnit. É sempre a mesma desculpa. Sobre a matéria de O Globo, o diretor geral do Dnit, Luiz Pagot, disse que “o jornal carioca [O Globo] errou no cálculo. Mostrou apenas os gastos referentes à parte operacional, ignorando a parte de manutenção rodoviária, propriamente dita.”As desculpas podem ser boas, verborragicamente bem elaboradas, mas não trazem de volta a vida dos mortos nas estradas federais. O senador de Mato Grosso, Gilberto Goellner (DEM), disse semanas atrás que “Até agora, Pagot não mostrou porque foi pra lá”.Mas o senador está enganado. O diretor do Dnit já deixou claro o que foi fazer lá. Durante a última semana de 2008, enquanto 435 pessoas morriam nas precárias estradas federais do Brasil (segundo a PRF), Luiz Pagot andava por Mato Grosso divulgando sua campanha ao governo do estado e prometendo para 2009, segundo ele, uma “revolução na malha viária” do estado com investimento de R$ 2,4 bilhões.Luiz Pagot assumiu o Dnit por indicação de Blairo Maggi, governador de Mato Grosso, mas sem nunca ter demonstrado a mínima capacidade para assumir um órgão de tamanha responsabilidade como o Dnit, e exatamente por não ter essa capacidade, acreditou que levaria no bico contando com sua grande e admirável habilidade em manipular números. Sua experiência se resume à manutenção da infraestrutura da Hermasa, empresa do grupo Maggi onde trabalhava antes de ser alçado a secretário de infraestrutura de Mato Grosso em 2003, onde teve uma atuação sofrível. Como herança de sua passagem pela pasta, deixou as estradas estaduais em escombros, como disse o senador Jayme Campos do DEM de Mato Grosso, de quem o diretor do Dnit é suplente, “Pagot é uma autoridade em escombros”.Mas os caminhos que ele administrava no grupo empresarial de Maggi, transportavam soja. Eis a diferença. Os caminhos que deixaram em suas mãos, transportam gente. E essa gente tem morrido por incompetência administrativa.Quantos ainda terão que morrer nas estradas federais brasileiras para que o governo entenda que a vida vale mais que meras e mundanas acomodações políticas?
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