Contador de visitas

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Reynaldo Gianecchini: "Meu transplante foi um renascimento"

======================

O ator fala de seu tratamento, de como quase morreu num acidente cirúrgico – e também de espiritualidade, fofocas, trabalho, sexualidade e futuro


INTENSIDADE O ator Reynaldo Gianecchini diz que não esperava enfrentar a morte tão cedo. “Mas ela estava ali na minha frente. Comecei a viver o presente de forma intensa” (Foto: J.R. Duran)


Fonte: ÉPOCA

Pequenos objetos como elefantes, bicicletas, velocímetro de táxi, placa de carro de Montevidéu e girassóis artificiais preenchem cada canto da sala de estar de Reynaldo Gianecchini. Na estante do apartamento em que o ator mora, na região paulistana dos Jardins, há DVDs de músicas de Carnaval, do filme argentino Um conto chinês e de O artista, sensação deste Oscar. Um imenso livro de fotos de Steve McCurry, o lendário fotógrafo da revista National Geographic, domina a mesa de centro. Uma poltrona de Sergio Rodrigues fica em frente à televisão de plasma. Uma instalação colorida da artista plástica e grafiteira Nina Pandolfo anima a entrada da cozinha. “Adoro essas pinturas que remetem a desenhos animados, meio japoneses, lúdicos, com animais, crianças. Tenho uma criança eternamente alimentada dentro de mim”, diz Reynaldo – ou Giane, como é conhecido entre os amigos.

Nem sempre foi assim. Antes do câncer, a casa de Giane só tinha móveis pretos e brancos, nenhum objeto. A doença o internou no hospital e no apartamento paulistano. “Passei a fazer terapia e descobri que a casa é você. Comecei a encher as prateleiras de objetos de antiquário, transformar livros antigos em mesa, pintar parede de laranja e até pensei em fazer faculdade de arquitetura”, diz Giane. “Mudei tudo internamente com a doença. Tenho uma nova medula. E mudei minha casa. Agora tenho cantinhos que representam meu desejo de aventura, de pegar uma moto e sair pela América Latina.”

De seu primeiro estágio em escritório de advocacia em São Paulo – quando, estudando Direito na PUC, conheceu a cidade “quase como um office boy, de metrozão e busão” – até hoje, Giane atravessou muitas estradas, algumas delas tortuosas. Ele não esquece que, na primeira novela na TV Globo, no ano 2000, assistia a seu desempenho “com o chicote nas costas”. “Eu era muito ruim, me sentia muito mal, não sabia nada, era estabanado, derrubava cenário do estúdio, meus colegas até se condoíam de mim, mas aprendi com a ajuda deles e dos diretores.”

Apaixonado pela profissão, diz que quer retomar quanto antes o trabalho interrompido por causa da doença – ele interpretava, no teatro, o papel de vilão na peça Cruel, baseada num texto do sueco August Strindberg. Sentado no sofá do apartamento cada vez mais personalizado, Gianecchini falou sobre o câncer, a espiritualidade, as fofocas, a sexualidade, o trabalho e o futuro.

ÉPOCA – Você se sente curado?
Reynaldo Gianecchini
– A operação de medula para mim foi um renascimento. Meu transplante é um pouco menos cabeludo do que os que se fazem com a medula de outra pessoa, quando pode rolar uma rejeição. Eu super me aceitei (risos). Meu transplante foi nada mais que uma quimioterapia muito pesada. Eu sabia que seria duro, mas não tinha noção. É uma quimioterapia que mata sua medula, aí você toma suas células de novo, as que foram salvas e são sadias. E essas células vão se reproduzindo para formar uma nova medula. Foi o único momento de meu tratamento em que eu pensei, caramba, será que aguento isso? É muito penoso. Seu corpo inteiro, por dentro, fica em carne viva. Não para nada dentro. Você come, vomita, tem diarreia. Comer ainda está uma briga, porque eu não tenho apetite.

ÉPOCA – Como ficou sua imunidade?
Gianecchini
– Logo após o transplante, imunidade zero, por não ter mais medula. Você fica com febre, fica sujeito a tudo. Eu, graças a Deus, não tive nenhuma infecção. Fiquei o tempo todo no hospital, a gente fica bem isolado, não pode receber visita, nada. A boa notícia é que a operação é intensa, mas rápida. Em nove dias, minha nova medula já tinha “pegado”. Aí você é um bebê. A gente perde todos os anticorpos, tem de tomar todas as vacinas de novo.

ÉPOCA – O que você quer fazer agora?
Gianecchini
– Nadar. E ir à praia no Rio.

ÉPOCA – Como será sua volta ao palco?
Gianecchini
– A partir de 13 de março, vou começar bem devagar minha peça Cruel às segundas e terças. Faço o vilão, o cruel. Isso vai ser meio louco. Lidei com tanto amor, tanta gente vai me assistir, as pessoas tão carinhosas, querendo me rever no palco. E vou estar lá fazendo horrores (risos), supermalvado. Mas vou continuar muito cuidadinho. Tenho de me alimentar direitinho, e não quero trabalhar como um louco. Gravações de novela os médicos liberaram só a partir de junho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário