Mortos são esquartejados e oferecidos a abutres em funerais no Himalaia
Nas comunidades instaladas em altitudes elevadas no Himalaia, a destinação de corpos de pessoas mortas pode ser algo complicado – o chão rochoso e congelado dificulta enterros e a cremação seria cara e difícil, principalmente pela ausência de árvores que poderiam servir como combustível.
Ao longo dos séculos, povos da região desenvolveram rituais religiosos que resolvem a questão, com o chamado ‘funeral nos céus’ – os corpos são retalhados e os pedaços são comidos por abutres, evitando a disseminação de doenças.
O ritual em uma comunidade tibetana localizada a 4 mil metros de altitude no Nepal foi filmado por uma equipe da BBC para o programa sobre montanhas da série Human Planet, que foi ao ar nesta quinta-feira na Grã-Bretanha.
A população local vive praticamente isolada do resto do mundo. O documentário mostra os preparativos dos líderes religiosos locais após a morte de Nombe-La, de 70 anos, para o funeral seguindo as tradições budistas.
Doenças
O lama Nam-Ga é o responsável pelo funeral de Nombe-La. “Nombe-La era um homem muito bom. Ele trabalhava duro e criou cinco filhos”, afirma o lama.
Ele sabe que precisa dispor do corpo rapidamente para evitar a disseminação de doenças.
Além das dificuldades práticas para um eventual enterro, em uma altitude em que as árvores não crescem, também não há lenha para uma possível cremação, a opção preferencial dos budistas.
A solução, o “funeral nos céus”, é um ritual sagrado cuja origem é anterior ao próprio budismo.
Para seguir o ritual, o lama Nam-Ga conta com a ajuda de um especialista, uma espécie de agente funerário local, cuja condição de não budista o torna indicado para a função que precisa executar.
Abutres
Após uma caminhada de uma hora e meia, a procissão do funeral chega ao local indicado para o ritual.
A grande quantidade de abutres torna o local indicado para o procedimento. Os animais são capazes de comer o corpo inteiro antes que o processo de decomposição comece a favorecer a disseminação das doenças.
Os budistas veem isso como um ato sagrado, que sustentará a vida de outro ser vivo.
Para eles, o corpo de Nombe-La é apenas um invólucro vazio e sua alma já migrou para outro domínio.
Para facilitar o trabalho das aves e tornar o consumo mais rápido, o especialista usa instrumentos afiados para cortar o corpo em pedaços e jogá-los aos urubus.
“Os lamas não podem fazer o que eu faço. Eu já fiz vários funerais nos céus, mas ainda preciso de uísque para fazer isso”, afirma o especialista. (Fonte: BBC Brasil)
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