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sábado, 22 de outubro de 2011

O APELO DRAMÁTICO DE UMA JOVEM JORNALISTA - "Paguem nossos salários, Diário de Cuiabá, Folha do Estado! Atrasar o pagamento das pessoas é uma das práticas mais sórdidas!"

20/10/2011 - Página do E
Dafne Spolti: "Perceberam que hoje não tem Diário de Cuiabá nas bancas? Quem está lá há muito tempo não aguenta mais a embromação." Dafne Spolti: "Perceberam que hoje não tem Diário de Cuiabá nas bancas? Quem está lá há muito tempo não aguenta mais a embromação."

“Por gentileza”, paguem nossos salários!

Por Dafne Spolti*


Atrasar o pagamento das pessoas é uma das práticas mais sórdidas. Nada melhor que isso para manter o poder sobre outros indivíduos, até quando esses assim permitirem. Por outro lado, deixar de pagar também demonstra incompetência administrativa. Certamente os trabalhadores que estão sem receber substituirão aos poucos os sonhos de melhoria daquele produto ou serviço por irritação, preocupação, vontade de abandonar tudo. Se não houver mobilização para mudar o cenário e se a empresa ficar irredutível nas negociações a qualidade certamente irá cair, muitos profissionais irão abandonar o barco e, então, a empresa estará fadada à falência. São os trabalhadores que sustentam as empresas e seus proprietários.

Parece meio absurdo falarmos em atraso salarial. Com certeza poucos imaginam que exista isso. Pois acreditem: Há profissionais que há meses e até anos não recebem. Vivem de migalhas e de esperança. Nem se sentem no patamar de lutar por reajuste ou aumento salarial, auxílios, redução da jornada de trabalho, convênio médico. A busca é apenas pelo pagamento. Porém isso se configura muito mais numa torcida, reza, esperança e qualquer coisa dessas, do que em uma luta conjunta, como normalmente é o caso dos jornalistas. Sim! Os jornalistas muitas vezes estão informando a sociedade sobre manifestações de diversas categorias enquanto eles próprios não têm dinheiro para pegar um ônibus circular.

Ontem o jornal onde trabalho há quase dois meses paralisou as atividades. Perceberam que hoje não tem Diário de Cuiabá nas bancas? Quem está lá há muito tempo não aguenta mais a embromação. Busca-se uma solução para tudo isso. Como viver sem saber se um dia receberá? Como pagar as contas, comida, e todas as despesas caras a que estamos necessariamente expostos? Como aguentar a pressão familiar? Queremos trabalhar no que gostamos. Mas também receber para isso.

Acabei de me formar, porém desde que entrei na faculdade, em 2007, ouço falar em atraso salarial, principalmente no Diário de Cuiabá e na Folha do Estado. Tive exemplo disso na Folha, no primeiro semestre, quando fiz um estágio. Demorei demais para receber meus R$ 350 na época.

Alguns esquemas de atraso salarial conseguem ser ainda mais infames do que a própria falta de pagamento. É o caso dos locais em que paga-se algumas pessoas enquanto outras ficam sem receber, como no Diário de Cuiabá. Isso é uma forma clara de desmobilização, injustiça e até maldade.

Será que vamos ter que mudar de profissão? E como está nas outras categorias? É tanto pecado assim querer receber o próprio salário para poder comprar arroz, feijão, carne, salada, o leite das crianças, uma cerveja, um ingresso para o cinema?

Importante reforçar que a Folha e o Diário são diferentes e têm formas distintas de atrasar o salário e lidar com os trabalhadores. Além disso, é claro, existem também outros veículos de comunicação que atrasam salários. Em relação ao Diário, algumas pessoas da equipe precisam receber cerca de quatro salários em atraso, além de pagamentos referentes a outros anos. Os funcionários garantem que é bem essa a situação, se não pior. Ah, quando digo equipe estou me referindo ao pessoal da gráfica, aos motoristas, ao administrativo, financeiro, repórteres, editores, diagramadores, revisores. Enfim, todos os profissionais que fazem o jornal sair.

Quando irão nos pagar Folha e Diário? Gente, se não forem pagar nunca, nos avisem. Assim buscaremos novos rumos. Mas que fique claro: Precisamos receber o que foi trabalhado. Vocês estão em dívida com seus funcionários. E nós, cientes disso.

Dafne Spolti é jornalista em Cuiabá-MT

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