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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Assassinato de jornalista foi trabalho de profissional
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Pessoas com larga experiência na área criminal que foram ouvidas pela reportagem foram taxativas ao apontar detalhes que levam a tal conclusão


José Roberto Amador (Turmadoepa)

O assassinato do jornalista Auro Ida, 53, ocorrido na noite de quinta-feira (21) da semana passada, numa rua sombria do bairro Jardim Fortaleza, na periferia de Cuiabá, foi uma ação profissional. Pessoas com larga experiência na área criminal foram taxativas ao apontar para a reportagem, sob condição de anonimato, detalhes que levam a tal conclusão.


O primeiro indício é a própria arma utilizada na ação, uma pistola Glock .380, considerada um equipamento sofisticado, de munição cara e que exige certa perícia no manuseio. Os chamados “bandidos pés de chinelo” usam calibres 38, 32 ou 22. A Glock é a arma mais apreciada pelos profissionais porque não falha na hora H. Policiais comentam que fora do serviço preferem dispor da pistola.

O assassino chegou ao local numa bicicleta, veículo ideal para a realização de tocaias: pode ser guardada em qualquer matagal à espera do momento da ação, não tem motor e nem farol, garantindo discrição na abordagem. E o usuário se faz passar por uma pessoa simples, como são os moradores do bairro onde ocorreu o crime. Uma bicicleta serve para fugir rapidamente e depois pode ser colocada na carroceria de qualquer utilitário.


A rapidez com que a Polícia apontou que o motivo do crime era passional também impressionou. Quem entende do riscado não se esquece do tristemente famoso caso Cristiane, ocorrido nos anos 90, quando foi “arranjado” um culpado, o Orelhinha, para encobrir os verdadeiros autores. O fato de um delegado estadual permanecer preso pela Justiça Federal, acusado de ocultação de provas, também depõe contra a credibilidade da Polícia de Mato Grosso.

Curioso é que já foi praticamente descartada a participação do ex-marido da garota de 19 anos que mantinha um caso com o jornalista. O rapaz é dono de uma lan house na mesma rua onde ocorreu o crime. Toda a Polícia sabe que uma facção criminosa atuante em Cuiabá é especializada em roubo de produtos eletrônicos. Os computadores roubados são desovados nas lan houses da periferia. A Polícia tem isso mapeado e pode fechar o cerco para obter a informação, se quiser.

Os primeiros depoimentos da moça que, até onde se sabe, foi a única testemunha do crime, foram contraditórios. Parentes do jornalista ligaram do telefone celular dele para a jovem na sexta-feira (22) para saber dela detalhes a respeito do ocorrido. A reação foi considerada extremamente fria. Ela disse que o matador bateu no vidro do carro e a mandou sair do veículo e entrar na casa. Ouviu os tiros e não teve qualquer iniciativa de chamar a Polícia. Quem acionou o telefone 190 foi um vizinho.

Caso tenha sido apenas uma pessoa desconhecida que bateu no vidro dela e rodeou o carro para atirar, daria tempo para o jornalista arrancar do local. A não ser que a pessoa fosse conhecida. Ou que a versão da moça não seja a verdade.

Alguns especialistas na área criminal também suscitaram a hipótese da moça ter sido usada como isca. O próprio Auro, que, diga-se, estava solteiro, contava como proeza que tinha namoradas em vários bairros de Cuiabá e Várzea Grande. Não era difícil armar uma situação capaz de atraí-lo até regiões propícias para o cometimento do crime.

Boa parcela das pessoas afirmou taxativamente que os crimes de natureza passional são solucionados em questão de dias, dado o envolvimento emocional de quem faz a “encomenda”, sempre deixando pistas capazes de ligar o mandante ao fato.

A alegação da greve para a demora nas ações cria uma situação constrangedora e antipática para a própria Polícia. Toda greve em serviços essenciais exige um percentual mínimo de comparecimento do pessoal no expediente. Se na Polícia for diferente, a greve é ilegal.

Essa letargia tem levado setores da sociedade a pedir atuação da Polícia Federal no caso, o que é uma bobagem, pois a PF não tem expertise nesse tipo de investigação. Vale lembrar que o atual secretário de Segurança Pública e o seu adjunto no cargo são delegados federais. O primeiro, foi brindado por não avançar no inquérito dos aloprados do PT. O segundo mandou mensagem de texto a algumas pessoas levantando suspeita delas pela morte do jornalista. Se foi brincadeira, convenhamos, foi de extremo mau gosto e indigna de uma autoridade.

Auro Ida era profundo conhecedor dos bastidores dos últimos quatro ou cinco governos e sabia de fatos ocorridos nos “porões”, capazes de abalar as estruturas do poder em Mato Grosso. Nos últimos meses vinha escrevendo artigos ácidos contra agentes públicos e comentou com algumas pessoas acerca de ameaças e/ou pressões que estaria sofrendo.

O delegado estadual encarregado do caso praticamente descartou essa hipótese alegando que não encontrou registro das supostas ameaças no sistema de segurança pública. Deu a entender que se a ameaça não está registrada na Polícia ela não existiu. Como se todo mundo confiasse seus problemas para a Polícia de Mato Grosso.

Se alguém organizou o crime por outro motivo que não o passional, o fez de forma quase perfeita. Principalmente porque a Polícia parece já ter eliminado quaisquer outras possibilidades. Ninguém pediu acesso ao celular, computador ou o e-mail da vítima. Policiais adoram mostrar serviço em casos de ampla repercussão. Estranho, muito estranho esse comportamento dos investigadores. O “corpo mole” é um desafio à autoridade do governador ou o cumprimento de uma ordem?

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