Crime envolto em mistérios
Namorada de Auro Ida desaparece da cidade e surge a suspeita de que conhece o executor da "encomenda mortal"
Agora a noite, no MT Record, apresentado pelo deputado Walter Rabello, que continua insistindo na tese de "queima de arquivo" por conta de investigações desencadeadas pela vítima, surgiu a informação de que a namorada do jornalista Auro Ida, executado a tiros no bairro Jardim Fortaleza, em Cuiabá, está desaparecida. Não há comprovação de que esteja sob proteção policial. Com muito medo, em entrevista a um site da Capital, ela afirmou na semana passada (antes de sumir) que tinha muito medo de ser a próxima vítima) e, junto com a família, mudaria o mais rápido possível do local. Há suspeita de que, na verdade, ao contrário do que tem afirmado, não só viu como conhece o executor de Auro Ida que, misteriosamente, permitiu que vivesse.
Bairro onde Auro Ida morreu é comandado pelo tráfico de drogas
José Trindade
24 Horas News
As organizações criminosas dos bairros nobres ou da periferia da Capital agem no mesmo compasso: não perdoam traição. E como as grandes “estrelas”, com os seus costumes e suas manias, alguns preferem as “baladas”, outros seus cantinhos sempre cercados de muita segurança. Cuiabá é um campo minado e a insegurança é vista à distância
O veículo de luxo entra no bairro e trafega por ruas quase desertas, a maioria sem asfalto, escuras ou com baixa iluminação pública. Ruas desertas, mas bem vigiadas por todos os cantos e becos por homens, mulheres e crianças que trabalham, dia e noite para traficantes ou líderes de quadrilhas especialistas em roubos e furtos.
Quem não conhece não percebe nada. Mas as “ruas” amplas parecem campos minados, prestes a explodirem. Em meio a casas humildes, muitas até bem miseráveis, surgem “bangalôs” simples por fora, mas luxuosos por dentro. O que muita gente não sabe, é que a fortuna dos traficantes tem aumentado nos últimos anos por causa da incapacidade do Estado.
O carro para em frente a uma casa para perguntar um endereço, e no mesmo instante, do nada, surgem duas motos, cujos motoqueiros se aproximam sem muita discrição. Não fazem perguntas, mas ficam atentos olhando para todos os lados, principalmente para o carro de luxo. Eles são os “recepcionistas” do “pó”. Logo em seguida um homem que não tirava o olho do carro e o segue em todos os seus movimentos. São os “olheiros”.
Essa situação – cortante e quase aterrorizante do ponto de vista da segurança - se desenrola onde aconteceu um tragédia para a imprensa de Mato Grosso, quinta-feira, 21: o bairro Jardim Fortaleza, região Sul da cidade. Lá, o jornalista Auro Ida foi executado com seis tiros, num crime ainda complexo para ser desvendado. A tese da passionalidade já se foi. Resta agora saber quem está por trás dessa morte, que abanou os meios de comunicação do Estado.
Em busca de informações, o portal 24 Horas News circulou por várias ruas do bairro e parou para conversar com inúmeras pessoas. E dá para concluir que tudo na região – abandonada pela segurança e também pelo próprio poder público – está relacionado ao tráfico de droga e a roubos e furtos.
Cuiabá seria uma cidade “dominada” pelo tráfico de drogas e pelas quadrilhas de ladrões especializados em roubos e furtos? O que a reportagem viu, ouviu e acompanhou, comprovam que sim. Aliás, as cenas que a reportagem vai tentar transmitir através de palavras, deixam bem claro que em todos os bairros da Capital existem territórios demarcados por bandidos armados que cumprem ordens de traficantes e líderes de quadrilhas.
Nas casas de luxo, na periferia ou em bairros nobres da Capital se escondem os “chefões” do crime. Seus súditos, no entanto, são tão pobres, até mais pobres que um simples trabalhador que ganha um salário mínimo. Mesmo assim os “empregados” pagos com drogas, morrem pelos “patrões” e também morrem quando traem os “patrões”.
No “negócio” considerado como um dos mais rentáveis do mundo, cada um tem sua função no submundo do crime que sustenta o poderio econômico de bandidos: traficantes e líderes de quadrilhas que quase não circulam pela própria comunidade, mas que se fazem presentes em locais frequentados por pessoas de alto poder aquisitivo.
Os chefões do crime organizado só costumam sair depois da meia-noite. Muitos, no entanto, preferem fazer suas “festas” regadas a muito uísque, cerveja, carne de primeira e droga em suas próprias casas de luxo pouco conhecidas da maioria da sociedade.
Por tudo isso as pessoas morrem de medo. A maioria não fala, mesmo tendo suas casas arrombadas e assaltadas. Todas as pessoas reclamaram da ausência do Estado na questão da Segurança Pública. Afirmam que o tráfico paga para ter exclusividade e manter a segurança distante, e as quadrilhas, muitas são “orquestradas” de dentro das penitenciárias. Quadrilhas que também pagam alto para virar “intocáveis”.
Quem ousa desobedecer o chefe morre. Nas palavras deles “amanhece com a boca cheia de formiga”. A ordem é impor respeito a todo custo, e quem não entra na linha entra numa “lista” de marcados para morrer.
Aliás, os números de mortes da Delegacia de Homicídio e Proteção a Pessoa (DHPP), comprovam o que a reportagem levantou nas ruas. Em mais de 70% das execuções sumárias as vítimas estão envolvidas com uso ou com o tráfico de drogas.
Além dos “soldados” do crime organizado, ainda existe o medo que leva as pessoas à decretar por “livre e espontânea vontade” a “lei do silêncio”. As pessoas sabem de tudo o que acontece. Assistem a tudo o que acontece, mas não se arriscam a abrir a boca.
“Não tem como. Nós vivemos, na realidade, como reféns dos bandidos, principalmente dos traficantes. Se eles matam seus próprios comparsas, claro que não pouparia a gente em caso de uma deleção. Eles não aceitam traição e matam seja lá quem for como fizeram com o jornalista”, disse um morador que pediu pelo amor de Deus para não ser identificado.
Como no Rio de Janeiro e em São Paulo, as pessoas sentem a falta do Poder Público. Nos bairros são poucas as viaturas da Polícia circulando. Aliás, na maioria dos casos e dos bairros da Capital quase não se viu uma viatura fazendo o trabalho de prevenção, uma competência do Estado, que nestes casos está omisso.
Um veterano policial que mora na região do Coxipó também conversou com a reportagem por telefone. Ele alegou que não iria se identificar por medo de represália da Polícia, até porque está falando a verdade, e porque está aposentado há bastante tempo, muito menos por medo dos bandidos, mas sim por causa de sua família, principalmente por causa de seus netos.
“O Estado está ausente, principalmente nos bairros da periferia. Lá no Santa Rosa tem droga e tem traficante. Tem, mas lá o Estado é menos ausente. Por lá não tem tanta Polícia como deveria ter, mas tem. Só que na periferia, além de não ter Polícia, os próprios policiais tem medo. Só vão no bairro quando é para a tender uma ocorrência de homicídio, caso contrário nem ligam. Aliás, pouca gente que mora na periferia chama a polícia hoje”, atesta o policial.
O “negócio” da droga em Cuiabá é uma cópia quase fiel do que acontece no Rio de Janeiro e em São Paulo. Para reverter esse quadro e essa história, no entanto, a sociedade precisa se organizar e cobrar do governo, pelo menos atitude.
Cobrar mais segurança, e os policiais que trabalham na segurança também precisam se unir e cobrar do governo melhores condições de trabalho e melhores salários, além de capacitação profissional. Caso contrário, vamos ficar igual ou pior do que Rio de Janeiro e São Paulo.
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